A loucura
Num dia todos esperam, noutro todos a temem. Ela chega mansa e tira a sensação de controle, o impulso de vida. Para alguns dá um mundo jamais visitado, onde acabam se perdendo em meio à alucinações e delírios, fantasias de um mundo irreal.
Pra que ser Alice se é possível ser uma Cinderela? Talvez não seja tão possível assim. Não são Cinderelas que vejo nos corredores daquele hospital psiquiátrico e sim personagens que dizem a todo momento um não ao sim que a vida quis impor. Sujeitos alienados que se rastejam pelos corredores em meio aos seus murmúrios e dores.
Sempre acreditei que as dores da alma fossem as piores dores que pudessem acometer um ser humano. É triste andar sem ver, mais triste ainda é não saber para onde se vai.
A cada vez que passo pelas alas daquele hospital um arrepio me alcança o corpo. Mas ontem foi um dos piores dias, depois de ver uma adolescente buscando sua identidade, outra chorando como uma criança por um copo de leite, vi um garoto que me esperava, sentado na porta da minha sala, com alguns desenhos nas mãos. Ao me ver ele fez apenas um pedido, um mesmo pedido por repetidas vezes. "- Doutora? Reza pra mim!"
Fiquei me questionando, onde estaria Deus para aquele garoto? Onde estaria a vida que lhe foi roubada? Quis entrar com ele na sala, deitá-lo no colo e fazer orações naquele momento, mas não seria possível, pois não tinha terminado a sessão.
Mais tarde, lendo meus livros para monografia deparo-me com o seguinte trecho:
"Não devemos nos contentar com um Deus pensado. Porque quando a razão nos abandona, nos abandona também Deus."
Seria esta a resposta para minha primeira pergunta?
Neste momento parei pra pensar que Deus não tinha abandonado aquela alma. Ali, a razão fazia ausência.
Continuo fazendo minhas orações para que ele possa encontrar Deus e acalmar suas emoções mesmo não tendo consciência de como isso aconteceu.
Thâmile Vidiz