sábado, 6 de março de 2010


"Take me to the magic of the moment/On a glory night/Where the children of tomorrow dream away/In the wind of change..." (Scorpions Wind of Change)


Trilha para um dia bom...



Em meio aos sonhos da infância, espero não
envelhecer rápido demais.
Aproveitemos! Enquanto experimentamos a
aventura de ser grande...


Thâmile Vidiz

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O trem da vida

Deixemos os cenários sombrios sobre o futuro do Planeta. Vamos a estórias que falam do destino final da vida.

Um trem corre veloz para o seu destino. Corta os campos como uma seta. Fura as montanhas. Passa os rios. Desliza como um fio em movimento.

Lá dentro se desenrola todo o drama humano. Gente de todas as gentes. Gente que conversa. Gente que cala. Gente que trabalha em seu computador. Gente de negócios, preocupada. Gente que contempla serenamente a paisagem. Gente que cometeu crimes. Gente que é boa gente. Gente que pensa mal de todo mundo. Gente solar que se alegra com o mínimo de luz que encontra em cada pessoa. Gente que adora viajar de trem. Gente que por razões ecológicas é contra o trem. Gente que errou de trem. Gente que não se questiona; sabe estar no rumo certo e a que horas chega em sua cidade. Gente ansiosa que corre para os primeiros vagões no afã de chegar antes que os outros. Gente estressada que quer retardar o mais possível a chegada e se coloca nos últimos vagões. E absurdamente gente que pretende fugir do trem andando na direção oposta a ele.

E o trem impassível segue o seu destino, traçado pelos trilhos. Despreocupadamente carrega a todos. A ninguém se furta. Serve a todos e a todos propicia uma viagem que pode ser esplendorosa e feliz. E garante deixá-los todos no destino inscrito em sua rota.

Neste trem, como na vida, todos viajam gratuitamente. Uma vez em movimento, não há como fugir, descer ou sair. Pode se enfurecer ou se alegrar. Nem por isso o trem deixa de correr para o seu destino predeterminado e carregar a todos cortêsmente.

A graça de Deus - sua misericórdia, sua bondade e seu amor - é assim como um trem. O destino da viagem é Deus. O caminho é também Deus porque o caminho não é outra coisa que o destino se realizando passo a passo, metro a metro.

A graça carrega a todos, os que são a favor e os que são contra. Com a negação, o trem não se modifica. Também não a graça de Deus. Só o ser humano se modifica. Pode estragar sua viagem. Mas não deixa de estar dentro do trem.

Acolher o trem, enturmar-se com os companheiros de destino é já antecipar a festa da chegada. Viajar é já estar chegando em casa. A graça é "a glória no exílio, glória que é a graça na pátria" como diziam os antigos teólogos.

Rechaçar o trem, correr ilusioriamente contra sua direção, de nada adianta. O trem suporta e carrega também a estes rebeldes, com toda a paciência, porque Deus se dá indistintamente a bons e a maus, a justos e a injustos.

A vida como a graça é generosa para com todos. De tempos em tempos ela nos faz cair na realidade. Nesse momento - e sempre há o momento propício para cada pessoa humana - o recalcitrante percebe então que é carregado gentil e gratuitamente. De nada adianta sua resistência e revolta. O mais razoável é escutar o chamado de sua natureza e deixar-se seduzir pela oportunidade de uma viagem feliz.

Nesse momento desfaz-se o inferno interior e irrompe gloriosamente o céu, a face humanitária de Deus. Descobre a gratuidade do trem, de todas as coisas e a presença de Deus. Há um destino bom para todos cada qual na sua medida.

E tu, leitor e leitora, como viajas?

Leonardo Boff

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O impossível do amor está na conclusão dos fatos,
Talvez sempre seremos este vazio que nos separa.

E...sempre sorriremos dos vãos,
e da nossa impossibilidade de dar
ao amor a chance de nascer.
É como amanhecer e sentir que falta alguma coisa,
é como dormir imaginando alguém chegar e lhe bater à porta.

Difícil é olhar aquela praça e saber que
as (im)possibilidades não terminaram.
Estranho e olhar nos teus olhos e pedir que...
Volte...

Esses doloridos "ses" me mantém
e paradoxalmente mentem
tornando possíveis esperanças,
fantasias, rimas e sonhos.

São tantos ensaios, desculpas...culpas!
Que tornam unicamente o que se sente...
O que não passará com os quilômetros, anos
é essa tal impossibilidade de amar!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

E depois de tanto sol você veio em chuva,
Veio em verso se fazendo humano, sempre se recompondo.
Em arte te deixei em marte com seus loucos planos.
Na despedida me deixou saudade.

Agora só me resta sonhar, sentindo o vazio
me consumindo e a solidão destas luzes que
me ajudam a lembrar...dos momentos, dos lamentos.

Só que viver já me basta se tenho na vidraça
um sentido pra olhar, se tenho alguém atento quando a lágrima quer rolar.
Ora!...Posso ser sua se assim quiseres, pode ser meu enquanto sonharmos.
Vivendo ao passo do próximo passo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Sol de Primavera...


"Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez

sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar

choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim é facil inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender"



Sol de primavera
Beto Guedes



Não sei se só eu sinto isto. Mas os meses de agosto e setembro são pra mim meses de profunda nostalgia. O cheiro das flores me traz lembranças diversas. Aos poucos chega CEFET, muita arte, os ensaios dos Novos Ébanos, as competições de natação, os amores, as chuvas de setembro. E, tudo chega ... se instalando!
Vamos lá?! Construir uma nova primavera?!

domingo, 30 de agosto de 2009


"Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares, e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar, põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu brincar."

sábado, 8 de agosto de 2009

Pensa em decorar um poema deste tamanho...


Agora imagina que você tem 99 anos com este poema em mente, sem errar uma vírgula...
Foi exatamente isto que presenciei hoje à tarde! E detalhe, este poema não era o único que estava presente na cabeça de Dona Alice.

ABC da pobreza

José Bernardo da Silva

A
A pobreza neste mundo
lamenta os trabalhos seus
eu falo por causa justa
que também lamento os meus
só me resta uma esperança
que pobre é filho de Deus

B
Bem conheço que a riqueza
é ouro, prata e o cobre
a pompa e a fantasia
é honra e brasão de nobre
se hei de querer ser odiado
mas antes quero ser pobre

C
Coitado de todo aquele
que por ter moeda forte
cheio de orgulho e soberba
sem pensar na sua sorte
qual será seu resultado
quando Deus mandar a morte

D
Devemos amar a Deus
abandonar a avareza
adorar a fé mais pura
o autor da natureza
ao mesmo tempo pensar
que no céu não vai riqueza

E
Eu quero bem a pobreza
porque dela sou irmão
inda que ela me atrase
eu reconheço a razão
porque é herança minha
desde o tempo de Adão

F
Feliz do pobre que sofre
seus males com paciência
tendo resignação
Perseverança e prudência
vence as dificuldades
tem de Deus a preferência

G
Grandeza neste mundo
vacila todo momento
é como a nuvem azulada
que anda a favor do vento
neste mundo dá prazer
no outro horrível tormento

H
Homem pobre não é nada
nem falado por ninguém
o mal quando nos persegue
não se sabe de onde vem
segundo o rifão antigo
na terra vale quem tem

I
Ira se o rico na terra
perde a glória a esperança
talvez a única coisa
que tenha por sua herança
depois de tudo perdido
de que serve tal vingança?

J
Juro como todo aquele
que sofre pela pobreza
é grande filho de Deus
não se lembra da riqueza
tendo um tesouro no céu
para que quer mais grandeza?

K
Kalendário que o pobre
deve ter em si seguro
é viver bem conformado
ser bem consciente e puro
como quem vive errado
e ver o clarão do futuro

L
Louvemos a Deus ser pobre
de muito boa vontade
uns trabalham pela fé
outros pela claridade
quem caminha para Deus
chega mais cedo ou mais tarde

M
Maria foi muito pobre
Jesus nada possuiu
seus tormentos dolorosos
Com paciência sentiu
triunfou glorioso
para o alto céu subiu

N
Ninguém fale da pobreza
que fala contra a razão
se Deus quisesse bem dava
a cada pobre um milhão
mas ficava embaraçado
o caminho da salvação

O
Os trabalhos mais horríveis
que há para se sofrer
é pensar sem causa justa
é lutar e não vencer
quem luta em favor de Deus
é muito raro perder

P
Pilatos foi grande homem
Herodes rei coroado
com um espelho bem claro
para quem vive enganado
porém nós todos sabemos
qual foi o seu resultado

Q
Quando quero maldizer-me
porque me vejo arrasado
na mesma hora me lembro
são muitos no meu estado!
e todos também padecem
por isto estou conformado

R
Rico será todo aquele
que tem bom comportamento
que ama o rito divino
e guarda seu mandamento
quem este mundo despreza
no outro acha aposento

S
Se quisermos ser feliz
neste mundo universal
amem a Deus e a pobreza
fugindo sempre do mal
que teremos preferência
no trono celestial

T
Todo mundo não é rico
egoísta e poderoso
porque enchia-se o mundo
de avarento orgulhoso
ficará para o futuro
um tempo mais perigoso

U
Um monarca neste mundo
da pobreza não tem dó
um magista Salomão
um duque um capitão só
com a morte é reduzido
em cinza poeira e pó

V
Vê-se uma árvore vestida
de flores tão asseada
e pouco vê-se despida
pela luz do sol trilhada
por si já se conhece
que riqueza não é nada

X
Xadrez grosseiro mal feito
vivem os pobres vestidos
São José que foi mais pobre
atendei nosso gemidos
pra que diante de Deus
sejamos favorecidos

Z
Zombará deste A B C
escrito e feito por mim
se houver cristão na terra
que censure e ache ruim
ou nasceu de satanás
ou procede de Caim

(Silva, José Bernardo da. ABC da pobreza. Ed. Prop. José Bernardo da Silva, Tip São Francisco, 1956)